Controle Emocional: Superando reações e a racionalidade impossível
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George Vittorio Szenészi
Emoções estão presentes em cada momento e não apenas nos momentos "emocionais" ou "emocionantes" da vida. Estão em cada comportamento, cada pensamento, nos hábitos, nas avaliações e nos julgamentos, no que se diz e no que não se diz. Emoções e sentimentos são os termômetros e os "indicadores" para as escolhas e decisões de cada instante. Formam um mundo muitas vezes oculto por baixo de todas as reações humanas, especialmente as ditas racionais. É um aspecto fundamental para quem lida com treinamento, estilos de liderança, escolhas, decisões, empreendedorismo, desempenho e, em especial, com o Coaching..
Lidar com as emoções tem sido um dos aspectos mais delicados da vida organizacional. Geralmente são colocadas de lado por fazerem parte das reações sobre as quais as pessoas pouco aprenderam. Outras vezes são abafadas com uma sutil orientação “você precisa aprender a se controlar”, ou “isso passa”. As técnicas atuais para resolver questões emocionais, nem sempre eficazes, são comumente sofisticadas ou com freqüência se parecem com terapia.
Não só os profissionais de RH, instrutores e consultores necessitam de uma visão consistente e ao mesmo tempo prática a respeito deste componente inseparável da experiência humana. Líderes, profissionais, professores e mesmo pais estão entre todos os demais que precisam compreender o papel e a importância da vida emocional para o equilíbrio humano.
Emoções e seus tipos
Emoções são respostas automáticas aos eventos. São estados orgânicos envolvendo alterações fisiológicas em resposta a experiências com o mundo externo e com o mundo interno. Elas não são nem positivas nem negativas. São apenas manifestações de energia, a energia emocional através do corpo. Podem, isto sim, ser ou não ser agradáveis. As emoções informam se a experiência que se está passando reforça ou de alguma forma ameaça a integridade da vida da pessoa. Possuem componentes programados ao longo dos milhões de anos da história da evolução até o homem. E possuem componentes desenvolvidos a partir dos processos de adaptação por que cada um passa em sua vida. Atualmente, algumas (poucas) respostas emocionais são plenamente naturais. A maior parte delas é fruto da adaptação ao meio em que crescemos. Daí surge o que podemos chamar de emoções naturais e de emoções substitutas. As emoções naturais são de origem genética: alegria, desfrute, amor (agradáveis) e tristeza, raiva, medo e aversão (desagradáveis). As outras, as substitutas, foram “programadas” em cada indivíduo a partir de experiências onde as primeiras não puderam ser expressas ou vividas de uma forma natural. São, por exemplo, estados emocionais como culpa, angústia, nostalgia, apatia, ressentimento, mágoa, irritação, impaciência, ansiedade, insegurança, cautela.
Cada emoção natural pode ser entendida como uma mensagem sobre o acontecimento que a estimulou. Está informando algo sobre a relação entre o evento que a deflagrou e o equilíbrio de sua vida. A tristeza, por exemplo, vem a partir de uma perda significativa e o medo a partir de uma ameaça. Emoções substitutas não fazem isso. Cada emoção substituta informa o quanto você não aprendeu, não compreendeu ou não aceitou certas coisas ao longo da jornada de suas experiências. Cada emoção substituta está dizendo o quanto você está despreparado para lidar com a vida. Por exemplo, uma ansiedade fala de seu despreparo para lidar com um evento futuro e a saudade mostra sua dificuldade para se desapegar e viver o momento presente. Lamentavelmente as emoções substitutas ocupam massivamente a maior parte das reações emocionais, inclusive as emoções agradáveis e tidas como positivas. Boa parte das alegrias, do prazer e dos estados emocionais como otimismo, entusiasmo e vitória são, para talvez a maior parte das pessoas, baseadas em emoções substitutas.
Vivendo as emoções
O que muitos pensam é que as emoções são motoras para suas vidas: precisam guardar raivas para ter energia e culpa para aprenderem a respeito de seus erros; precisam da ansiedade para ser rápidas ou do medo para se protegerem. Outros interpretam as emoções como sinais a respeito do momento em que vivem – como a angústia para sinalizar que estão sendo oprimidos ou a indignação para mostrar que não aceitam algo considerado injusto. Não sabem que as emoções desagradáveis fazem mal ao corpo, que existem outros sinais mais saudáveis para os mesmos propósitos e que as emoções não devem ser guardadas, mesmo as agradáveis. Que até memórias com emoções positivas podem ser bloqueios à liberdade emocional. Que emoções são experiências que passam pela vida e que não precisam deixar rastros.
O controle emocional
Você sabe o que é controlar as emoções? É segurar, alterar, dirigir sua manifestação. Em suma, controlar significa impedir que uma emoção apareça na sua forma natural. Quando você controla você manipula sua emoção, e de alguma forma você a está suprimindo. E suprimir emoções tem suas conseqüências: tensões musculares, disfunções orgânicas, manifestações compulsivas, dependências, reações emocionais prejudiciais. Porém manifestar toda e qualquer emoção tem também seu ônus: além de criar algumas situações sociais às vezes não muito felizes ou incômodas de lidar, também elas alteram negativamente seu corpo, sua mente e seu espírito. Suprimir faz mal, expressar faz mal. Um beco sem saída? Qual a solução então? Ela existe e você já a dominou. Reaprender uma habilidade que você já teve quando criança e que o tempo, aliado de uma educação que mais se pareceu com domesticação, a fez esquecer. A habilidade de dissipar as emoções, deixá-las ir... Você que já viu crianças brigando – quanto tempo leva a raiva do menino cujo coleginha pegou um brinquedo seu sem autorização? Pois é... alguns segundos de briga. E logo em seguida estão brincando juntos de novo. Emoções não necessitam ficar guardadas. Elas podem se desvanecer.
A racionalidade
impossível
Descobertas recentes mostraram algo que a intuição já vinha apresentando há algum tempo: não existe razão sem emoção. Os circuitos neurológicos do pensamento racional parecem que, de alguma forma, se cruzam com os circuitos neurológicos das emoções em certas regiões bem definidas do cérebro, como por exemplo, os córtices pré-frontais ventromedianos e a amígdala. A danificação dessas regiões compromete, de maneira consistente e clara, o raciocínio, a tomada de decisões e, surpreendentemente, também as emoções e os sentimentos, e isso especialmente nos domínios pessoal e social. O que isso significa, em termos práticos, é que tanto nas organizações como no contexto pessoal, a vida racional depende da vida emocional. Analisar problemas, criar opções, fazer escolhas e implantar medidas são movimentos gerenciais que, para dependerem de um raciocínio lógico e bem fundamentado, dependem do lado emocional e do sistema de avaliação interior dos profissionais. Sim – analisar, avaliar, julgar e fazer escolhas são processos basicamente emocionais. Isso por que são os sentimentos que informam a você sobre a qualidade e a adequação de suas decisões. Emoções e sentimentos são os termômetros e os "indicadores corporais" para as escolhas entre as opções de cada instante. Viver é uma experiência continuamente emocional. A racionalidade pura ou é humanamente impossível ou totalmente disfuncional.
Os estados emocionais estabelecem as matrizes para qualquer resposta a um evento. As motivações mais profundas de cada escolha que uma pessoa faça são sempre de cunho emocional. É preciso olhar as emoções e sentimentos às vezes muito sutis que estão interferindo fortemente em decisões, escolhas e opções de ação. Equivoca-se o profissional ao considerar que sentimentos fortes como determinação, força e sucesso sejam importantes e até necessários para o alcance de metas e objetivos. Talvez o mais importante seja a tranqüila e poderosa convicção presente à serenidade.